Silvio Piresh nasceu em Portugal, mas vive no Brasil há mais de 45 anos. É autor de:- Poesia King Size (1.981) objeto-poético - poemas enrolados e acondicionados em carteira de cigarros. Obra premiada pelo Clube de Criação de São Paulo. - H2O Poesia em Conserva (1.981) objeto-poético - pote de vidro com poemas impressos e mergulhados na água. Obra lançada no MIS (Museu de Imagem e Som) – São Paulo. Ouro no Clube de Criação de São Paulo. - Orelhas de Van Gogh (1.983) - livro de poemas, 340 pg. - Poesia Luminosa (1.984) - poesia editada e veiculada em painéis luminosos na cidade de São Paulo. - VamPires (1.998) – 200 livros artesanais, escritos e transcritos por mais de sete anos pelo próprio autor, com capas pintadas a óleo, uma a uma, e diferentes entre si. Obra exposta no MAM-SP (Museu de Arte Moderna). - O Cristo Rosa (2.003) – Romance de ficção, 300 pg, lançado na Pinacoteca do Estado de São Paulo.- E mais: 5 romances inéditos.
Pequenos tragos de lirismo na poesia de Silvio Piresh
Num maço de "cigarros intragáveis", "sabor bem Brasil", a "Poesia King Size" de Silvio Piresh, edição do autor, em "20 poemas enrolados". O lançamento da nova forma de embalagem para a criação literária está marcado para hoje, a partir das 19 horas, na Agência de Propaganda ABDO (r. Itapicuru, 456, Perdizes), onde o poeta promete "pequenos tragos de lirismo e bebida". Português de nascimento, brasileiro por adoção, Silvio Piresh estudou Ciências Sociais, mas profissionalmente "ganha o dia" como publicitário. Escrever poemas sempre esteve presente na sua rotina de encontros com clientes, execução de lay-outs e projetos de publicidade. Editá-las, porém, um sonho adiado, até que surgiu a ideia de apresentar seu produto de livre criação de forma inusitada, mesmo porque havia uma relação estreita entre a embalagem – o maço de cigarros – e o conteúdo poético de sua arte. Poesia enlatada (como já apareceu), "poesia enrolada ªcomo Silvio Piresh propõe agora, o fato é que, na opinião do poeta, dificilmente uma editora se interessaria em arriscar investimentos num projeto novo e, principalmente, num autor desconhecido. Ele mesmo (a exemplo de muitos poetas novos) decidiu então custear a chegada de sua arte ao público: "Se eu editasse um livro convencional, como autor desconhecido, provavelmente também continuasse desconhecido. Cheguei então a essa embalagem, o maço de cigarros, que todos conhecem, mas não para veicular poesia. Depois, há uma relação entre essa forma e o conteúdo dos poemas, porque me utilizo de slogans de marcas de cigarros para falar um pouco sobre o terror cotidiano, a política, a mulher. ("Às vezes/ você é igual/ cigarro./ a droga/ é que/ não dá pra largar/ com um simples/ furo na orelha.") Voltei também a pensar em 68. Foi como uma guarda-roupa, mas a vida ainda cheira a naftalina". ("Em 68/ a gente jogava/ bolinha de gude/ e rolhas/ nos cascos. / Hoje.../ a gente até dá bom dia a cavalo."). Para Silvio Piresh (29 anos), a única maneira do autor novo chegar ao público é editando seus próprios escritos. "Os poemas podem não ser drummondianamente perfeitos, mas é preciso que todos falem da vida, disso tudo aí. E tem momentos que Drummond também escreve coisas muito chatas. Mas, é lógico, que ninguém quer comprar briga. Nessa produção independente, marginal, tem coisa muito boa e, é óbvio, muitos erros também. Os poetas, como as demais pessoas, buscam um caminho, procuram coisas novas." Latente durante alguns anos, esse movimento de poesia independente, segundo Silvio Piresh, "deve conquistar leitores, porque os poetas se encontram com o público, vendendo seus poemas de mão-em-mão e, mais importante, conversando com as pessoas, pensando a vida, a arte". Sua "Poesia King Size", porém, ele não terá tempo de levar ao público nas portas de teatro, cinema e outros locais. Mas distribuirá por livrarias da cidade, prometendo para breve outros projetos igualmente inusitados. (O Estado de São Paulo, 1981)
Agora, poesia em maço "king size"
O público paulista já viu poesia em calendários, chuva de poesia do alto do edifício Itália (lançada pelo Poetasia), poesias pregadas em postes e livros dos mais variados formatos e tamanhos. Mas poesia em caixa é a primeira vez, e o autor da ideia, Silvio Piresh, vai lançar seu trabalho a partir das 19 horas de hoje, na rua Itapicuru, 456, em Perdizes. "Poesia King Size" é uma nova e ousada invenção nacional. Trata-se de um estranho livro, em formato de caixa de cigarros (11cmx6cm), contendo vinte poemas de Silvio Piresh, enrolados um a um, em forma de cigarro, só que em papel craft. As laterais do maço foram utilizadas para informações gerais como "20 poesias intragáveis", "sabor bem Brasil" e ainda um poema "Coração Policial": "O amor é bom para cachorro/ Só que eu ainda me vacino contra a raiva". "Considerei que um livro quadrado, convencional, seria apenas mais um livro, então decidi enrolar as poesias e fazer um "merchandising". Na verdade a ideia surgiu como um todo, forma e conteúdo: a forma do livro faz as pessoas se interessarem por ele porque dá um certo trabalho ler cada poesia, não é como simplesmente ler um livro", diz Silvio. Da ideia à concretização foram cinco meses de trabalho, numa produção independente que obrigou autor, parentes e amigos a enrolarem quarenta mil poesias para uma tiragem de duas mil caixas. Quem for hoje ao lançamento poderá comprar cada um a Cr$ 100,00. Nas livrarias o preço irá para Cr$ 150,00. Português de 29 anos, mas desde os 9 de idade no Brasil, Silvio Piresh é redator de uma agência de publicidade, a Abdo, há seis anos. Embora escreva há bastante tempo, ele nunca fez parte de nenhum grupo ou movimento. "Poesia King Size" é seu primeiro "livro", e nessas "20 poesias intragáveis" – "porque não podem ser tragadas e são um tanto pesadas" – o autor quis tirar alguma coisa que "estava parada em minha garganta. São coisas políticas, às vezes erótico-políticas, mas que têm a ver com o País, a situação que gente passou desde 64. Resolvi dar um flash e fui direto ao assunto, sem querer excesso de preciosismo, de palavras. Não quis usar palavras de dicionário mas sim as que falamos, a gíria, e assim cada uma pode ser entendida de um jeito próprio, ou duplo, na denotação e conotação". Uma das poesias do maço é "Trote": "Em 68/a gente jogava/bolinha de gude/e rolhas/ nos cascos. Hoje/que o país/ virou/ um grande Jóquei/ e solta girassóis/ de m... / a gente/ até dá/ bom dia a cavalo". Outra é "Ódios e ópios": "Às vezes/ você é igual/cigarro. A droga/ é que/ não dá pra largar/ com um/ simples/furo/ na orelha". E uma terceira. "Filho do Pai": "Idi Amim/ Vargas/ Somoza? Salazar? Stálin/ Franco? Batista? Hitler. Cristo/ você abriu os braços/ ou as pernas?" Segundo Silvio, seu "livro" de estréia tem causado boas reações de quem vê, "porque tem um aspecto novo, tem certa agressividade mas um toque de humor, ironia. E a forma está bem associada ao conteúdo". Ele tem mais dois livros prontos com temáticas semelhantes mas vistas sob outra forma" e pretende descobrir outro jeito inusitado para seus lançamentos. O que Silvio quis foi algo diferente, e conseguiu: "Como eu não tenho um nome conhecido procurei chamar a atenção: e depois, acho que a poesia tem que encher os olhos, também". Leitor de Fernando Pessoa, "de berço", e admirador hoje do trabalho de Alex Polari, ele confessa gostar mais dos jovens poetas, hoje, que dos mais velhos: "Os de hoje erram mais porque jogam fora os padrões: é melhor que não saia bonitinho, é mais rico assim. Sou contra a poesia com ranço e adjetivos, que cansa demais." – L.S. (Folha de São Paulo)
Poemas King Size, enrolados e acondicionados como cigarros num maço, e Poesia em Conserva, versos transcritos em fitas plásticas mergulhadas em água, semelhantes a palmitos dentro de um vidro, são as embalagens nada convencionais que o poeta e publicitário Silvio Piresh tem usado para propagar seus servos. Ele próprio concorda que, se as pessoas não mergulham com vontade no conteúdo de sua poesia, ao menos divertem-se com o inusitado das embalagens. (Revista Íris)
Silvio Piresh: um poeta original
Silvio Piresh é uma dessas gratas revelações de poeta, que em apenas 2 meses já mexeu com a cabeça de muita gente. Seu primeiro trabalho foi um lançamento inusitado e original: Poesia King Size. Um maço de cigarros poéticos. Um "objeto-poético" com altos teores de conteúdo e criatividade. A outra novidade foi a Poesia Luminosa, lançada ontem mesmo em mais de 15 Jornais Luminosos de São Paulo e do País, simultaneamente. Poesia que usou e recriou a linguagem desse veículo, incluindo até teasers sonoros. Um belo exemplo de originalidade são as 3 "poesias visuais" que em primeira mão mostramos aqui. Poemas que rompem com toda e qualquer linguagem estabelecida, pois eliminam o elemento principal do próprio poema, que é a palavra, coisa que jamais foi ousada, Vale a pena ler/ver esses poemas. O conteúdo é a mais fina flor de ironia, humor, lirismo e sutileza. Confira. (Diário Popular)
SOBRE POESIA EM CONSERVA
H20 - Poesia em Conserva
No início deste ano, Silvio Piresh lançou a "Poesia King Size", apresentando seus poemas em maços de cigarros. Depois, divulgou seu trabalho nos luminosos informativos de várias cidades. Agora, prosseguindo na busca de novas formas de embalagem para sua criação literária, ele chega aos "palmitos políticos": H20 – Poesia em Conserva", um vidro com 61 poemas impressos em poliestireno e enrolados como palmitos, será lançado às 20 horas de hoje, no Museu da Imagem e do Som (Av. Europa, 158). Cada vidro de "H20" contém sete "palmitos poéticos", mergulhados em meio litro de água aromática. Assim explica Silvio Piresh, as pessoas não vão ler apenas com os olhos: "Quando o leitor abrir o vidro vai sentir o perfume. Para pegar os poemas, vai ter de molhar os dedos. É uma transa que explora os outros sentidos, e de que eu gosto muito". Mas não foi apenas por prazer que ele chegou a essa forma. Como as poesias, escritas durante os últimos três anos, falam dos acontecimentos de um dia – o 7 de setembro –, Piresh tinha a preocupação de que a continuidade fosse mantida durante a leitura: "Fiquei procurando uma forma que possibilitasse um elo de ligação entre os poemas. Afinal, trata-se de um roteiro, em que cada poesia é uma cena e cada palavra um fotograma. Acho que consegui uma integração entre a forma e o conteúdo, em que a imagem das palavras tem um papel importante". Consciente do risco de que as pessoas se interessem apenas pela embalagem, Silvio Piresh também pensa em publicar um livro, nos moldes "tradicionais": "A forma é pro-forma para mim. O que eu quero é transar o verso. Essas iniciativas todas foram apenas uma maneira de chegar até o público, conquistar um espaço". por isso, adverte que seu trabalho não é uma brincadeira: "Lá dentro têm pedaços de mim, um lirismo arrancado da vida, que não tem nada a ver com a esperança verda-amarela". "H20 – Poesia em Conserva" será vendido, durante o lançamento, ao preço de Cr$ 690,00 e CR$ 490,00 (para estudante). Depois, poderá ser encontrado em algumas livrarias da cidade ou na agência de propaganda onde Silvio Piresh trabalha como redator - Rua Itapicuru, 456. (O Estado de São Paulo)
Texto aquático
Novo veículo para a poesia. No Dia da poesia, em março passado, ele conseguiu que seus poemas circulassem em vários informativos luminosos do país – aqueles noticiários rolantes que aparecem nas fachadas dos prédios de jornais ou de shopping centers. Os versos intercalavam as manchetes do cotidiano. Antes, lançara poesia em rolinhos de papel, embalados em caixinhas iguais às dos cigarros king size. Agora, em novembro, ele apresenta outra novidade: sete "palmitos" poéticos acondicionados em vidros de conservas. Silvio Piresh, publicitário, 29 anos, até agora nem sequer tentou veicular sua produção na tradicional forma de livro: "Eu não vou concorrer com os Drummond da vida. Não tenho nome, não tenho pré-história. Então, tenho de fazer algo diferente, para que as pessoas se interessem pelo que está escrito". Poesia enrolada – O livro é mesmo a forma ideal para veicular poesia? O romancista carioca Ary Quintella é categórico: "Nada de folhas soltas, poemas que se perdem. Um livro é o caminho para dar permanência do trabalho. O contista paranaense Domingos Pellegrini Jr. diz o mesmo: "Cada poema é uma peça única, como um quadro numa exposição. O livro de poesia é o catálogo que documenta a mostra". Mas não é necessariamente o veículo privilegiado da obra poética. Pellegrini Jr., por exemplo, está preparando um exposição de poemas em parceria com o artista plástico Carlos Sato, também paranaense: os versos são impressos sobre um poster fotográfico e, na hora do lançamento, o pintor acrescenta imagens ou traços em cada quadro, tornando-os individualizados. O poster-poema, invenção que ganhou muita força no país nos anos 60, está agora, também, entre as formas mais popularizadas e sofisticadas de tirar a literatura do livro – produto pouco frequentado pelo público – e fazê-la circular mais. Os happenings poéticos que escandalizavam a população das grandes cidades há vinte anos – vale lembrar eventos protagonizados pelo catarinense Lindolf Bell e por Jorge Mautner – estão voltando, com as apresentações de porno-poemas em ruas do Rio e de chuvas de poemas em São Paulo. E há a poesia no poste – folhetos que são pregados em semáforos ou monumentos públicos – a poesia de muro; os poetas que, como Chico Bezerra e Paulo Leminski, reforçam a crença de que a música popular é a melhor maneira de fazer sua obra chegar ao público. São todos movimentos e ações que pretendem desenrolar a poesia do complexo novelo do mercado, em que ela ocupa posição marginal: os grandes editores a evitam; os pequenos – como Massao Ohno, de São Paulo, ou Cleber Teixeira, de Santa Catarina –, realizam livros bonitos mas não lutam para ocupar devidamente um espaço comercial. As iniciativas mais bem-sucedidas acabam ficando por conta dos poetas independentes, que produzem suas edições e criam canais próprios para firmar sua obra. Palavras em conserva – "A poesia também é um produto. Por que não de consumo? O estômago não vai consumir, mas sim a cabeça, a alma, o coração." Sentado atrás de sua mesa repleta de gadgets e mensagens coloridas, Silvio Piresh acredita nisso. Ele, que há seis anos engavetou um diploma de sociologia para dedicar-se à publicidade, começou a imaginar meios de tornar a poesia consumível. Depois do King Size – setecentos maços vendidos em livrarias e 1.300 distribuídos de mão em mão – e da poesia luminosa, H20 Poesia em Conserva. Ele mesmo desenvolveu a ideia, sua forma e aplicou 400 mil cruzeiros na execução – mil vidros de conservas e seus rótulos, cada um destinado a acondicionar sete rolos de água aromatizado. Para divulgar: cartazes e cartões-postais. O poeta pretende vender sua obra em escolas e faculdades, a 490 cruzeiros a unidade. Quem não tem carteirinha de estudante paga 690 cruzeiros. Ele já provocou muita surpresa com o produto, mas sabe que muita gente acha a ideia boa e não lê. Por isso, garante que a próxima investida será em forma de livro: "Com muito oba oba, a essência fica de fora. E eu não quero ficar conhecido só como um cara que faz embalagens". (Revista Visão)
Como poeta, o português Silvio Piresh, 30 anos, é no mínimo um bom publicitário. Em janeiro passado, ele fez sucesso com suas poesias "King Size", enroladas e acondicionadas como cigarros num maço. Agora, ele lança a poesia em conserva, com os versos escritos em canudos de plástico branco, mergulhados em água, semelhantes a palmitos dentro de um pote. Há vinte anos no Brasil, diretor de criação da agência de propaganda Abdo, de São Paulo, Piresh não se ilude: "Até hoje, minha poesia é mais conhecida pela embalagem que pelo conteúdo". A prova de fogo fica para março de 1982, quando ele finalmente lançará poesia impressas em livro. (Revista Veja)
A novidade à venda: poesia em conserva.
O poeta Silvio Piresh espera por todos os nossos leitores hoje, a partir das 20 horas, no Museu da Imagem e do Som (avenida Europa, 158) onde estará autografando (não sei como o fará, ainda) o seu livro H20-Poesia em Conserva. A edição é sua. E cada vidro contém meio litro de água aromática e sete palmitos poéticos. São 61 poemas, impressos em poliestireno à prova d'água. Depois de tanta imaginação para fazer o seu livro de um modo inusitado – eu tenho visto poesia em lata, em tiras, em mil maneiras diferentes, mas é a primeira vez que a vejo "em conserva". Isso dá muito o que pensar e creio mesmo que um estudioso dos fenômenos da literatura em nossos dias – talvez o professor Martinho Lutero, que é também um excelente poeta – pudesse dar uma explicação e até fazer um curso sobre o assunto. Efeito da sociedade consumista? Tentativa de competir com o marketing superorganizado das superpotências? Um meio de fazer com que o público, condicionado à compra de alimentos em conserva, se habitue a adquirir esse alimento do espírito, nessa forma? Que profundos motivos, que conotações sociais, econômicas e políticas podem inferir-se. Enfim, quero dar os parabéns ao Silvio pelos poemas e pela forma como os acondicionou. Tenho de reconhecer que não lhe falta imaginação nem atualização. Vamos todos lá prestigiá-lo? (Torrieri Guimarães)
Silvio Piresh é um poeta e uma surpresa. Terceira obra. Mas não terceiro livro. Primeira obra: 20 poemas King Size. Poemas dobradinhos. Cigarrinhos para você fumar... Enfiados numa caixa de cigarros, isto é, um invólucro que lembra este objeto. Um dos poemas: Coração policial: "O amor é bom pra cachorro. / Só que ainda me vacino / contra a raiva". Pano rápido. Outra obra. Silvio Piresh. Contém 7 palmitos poéticos, aromáticos, com 61 poemas impressos em poliestireno, à prova d'água. Compr. 6,2 m. 1981. Edição do autor. H20. E naquele chuvoso 7 de setembro a poesia pediu água. Décio Pignatary. Augusto e Haroldo curtiram esta experiência poético-aquática-industrial-escracho-fascinante. Terceira obra. Um livro lindíssimo. Mas sem título na capa. Nada. Nada. Nem nome do autor. E poemas como estes: Nas côdeas do tempo pão e dentes-de-leite: a mesa quase posta por cupins e uma eterna renda portuguesa de formigas a disputar cada migalha dos meus oito anos. Nas côdeas do tempo... ... É tudo da dor a alegria oscilante mercúrio Não importam as baixelas e o equilíbrio Sabe-se do mel por outras colméias e simetrias Recepciona-se, em nós, abelhas de dor Extraindo, em nossos canteiros, rara ambrosia
...
Conteúdo e embalagem garantem: estes palmitos poderão ser eternos
Parecem palmitos, têm formato de palmitos, vêm em potes de vidros, como palmitos – e termina aí a semelhança com aqueles gomos terminais longos e macios, comestíveis, do caule das palmeiras. São "palmitos poéticos", criativa forma como o poeta Silvio Piresh apresenta os 61 poemas que compõem seu livro-pote H20 Poesia em Conserva, impressos em sete rolos de poliestireno mergulhados em água. Embora não sejam comestíveis, não são indigestos e, muito menos, digestivos para quem pensa em alimentar a alma. Na verdade, segundo a crítica, têm conteúdo para ser eternos. Não bastasse isso, têm a garantia adicional de uma embalagem perfeita.
SOBRE POESIA LUMINOSA
Versos de otimismo no dia da poesia
"Nhac Nhac Nhac, o velho senta na mesa. A solidão come" Ou, "Trimmmmmmmm Trimmmmmmmm quando a felicidade bate na porta é para vender livros". Estes são dois dos poemas que estão em luminosos informativos de várias cidades brasileiras para homenagear o Dia do Poeta, comemorado hoje em todo o país. Em Belo Horizonte, os festejos poderão contar com a participação ativa do povo, convidado a escrever versos numa passeata que percorrerá domingo desde a Estação Rodoviária até a Praça da Liberdade. Com ela, os poetas mineiros também pretendem lançar um manifesto: mostrar a importância da poesia. Embora bastante diferentes, as duas propostas encerram um objetivo comum: fortalecer o gênero, despertando o interesse do público. "O povo quase não compra livros. E ele está, é claro, mais preocupado com o pão do que com a fantasia", justifica o poeta e publicitário Silvio Piresh, idealizador da poesia luminosa – no Center 3 e nos shoppings, em São Paulo –, uma fórmula de conquistar um espaço menos convencional e mais aberto. Esta não representa, na verdade, a primeira iniciativa para divulgar o gênero. No início do ano, o próprio Silvio Piresh lançou sua "Poesia king Size", poemas enrolados e acondicionados em maços semelhantes aos de cigarros. Isto prova que os poetas estão procurando todos os meios para levar seus trabalhos ao público. (O Estado de São Paulo)
O choque dos novos
Roberto Piva, Silvio Piresh e Claudio Willer – que na minha opinião se destacam nitidamente do grupo de vários talentos poéticos que o Brasil tem produzido subliminarmente quase, nas últimas décadas – são, com Hilda Hilst, a grande revolução coperniciana do ser e das variadas formas que o poético vem assumindo entre nós, nesta década inicial de 80. Seria injusto esquecer, porém, os poetas que dispõem de meios ainda mais escassos de ser fazer ler ou ouvir: afinal, é elementar recordar que Eliot e Borges foram totais "encalhes" para seus esperançosos e ousados editores, anos a fio. (Leo Gilson Ribeiro)
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